Introdução
Vivemos dias de Web 2.0 quando as pessoas se tornaram produtoras de conteúdo para ser transmitido através das redes de comunicação. Os teóricos do construtivismo/interacionismo talvez não imaginassem que algum dia houvessem ferramentas de interação tão potentes como as que existem hoje.
Blogs, You Tube, wikis são ferramentas para autoria e publicação online que abrem ao receptor a possibilidade de colaborar na construção do conteúdo e criar em co-autoria. Muito mais do que diários de adolescentes, como são conhecidos por muitos,
os blogs são canais de expressão e comunicação que provomem o contato entre pessoas de interesses comuns. O poder de editar e ser a própria imprensa aliado ao convite de interferir em conteúdos publicados por outras pessoas, expondo sua opinião, são alguns dos atrativos que seduzem os chamados blogueiros.
Em termos de educação, a utilização de blogs com objetivos didáticos oferece inúmeras vantagens já que os mesmos podem agregar pessoas em torno de assuntos diversos possibilitando discussão e criação coletiva, o que promove a tão falada construção do conhecimento.
Marco Silva (2005) declara que a interatividade é a modalidade comunicacional que ganhou ênfase com a cibercultura, quando é aberta ao receptor a possibilidade de responder ao sistema de expressão e de dialogar com o mesmo. O autor considera que a atitude comunicacional não deve ser um ideal, mas uma atitude prática e cotidiana e que “é preciso despertar o interesse dos professores para um nova comunicação com os alunos em sala de aula presencial e/ou virtual”. Diz que “é preciso enfrentar o fato de que, tanto a mídia de massa quanto a sala de aula estão diante do esgotamento do mesmo modelo comunicacional que separa emissão e recepção.” Declara então que “comunicar não é simplesmente transmitir, mas disponibilizar múltiplas disposições a intervenção do interlocutor. A comunicação só se realiza mediante sua participação. (p.197)
Os blogs parecem atender a estas necessidades propostas se usados de forma didática e participativa. Vamos agora falar um pouco sobre isso…
Confira um mapa mental da Cibercultura
Público alvo
Professores de escolas públicas ou particulares, de aulas presenciais, ou semi-presenciais, que desejam possibilitar aos seus alunos um canal de interação via redes.
Por motivos de segurança, não recomendamos o trabalho com blogs para crianças e pré-adolescentes, já que, sendo ferramenta que promove intertextualidade, abre toda a possibilidade de conexões. Esta liberdade não é adequada para os pequenos, que não possuem ainda autonomia para se protegerem de conteúdos impróprios.
Objetivo
Silva (2005) diz que o professor deve disponibilizar ao aluno:autoria, participação/manipulação, informações variadas, co-autoria,facilidade de permutas, associações, formulações e modificações na mensagem.
O autor coloca que o professor deve potencializar a comunicação interativa síncrona e assíncrona; criar atividade de pesquisa a partir de situações-problema contextualizadas; criar ambiências para avaliação formativa; e disponibilizar e incentivar conexões lúdicas, artísticas e navegações fluidas. Sintonizado com a cibercultura e com a interatividade, o professor deve perceber que o conhecimento não esta centrado no seu falar, substituindo-o pela participação ativa dos seus aprendizes.
Pretendemos propor ao professor a construção de um blog na internet e argumentar sobre as vantagens de manter uma ferramenta deste tipo disponível como auxiliar interativo para construção de conhecimento em turmas de qualquer área do saber.
Referencial teórico
Conforme Santarosa (2006) o Interacionismo de Jean Piaget e Lev Vygotsky considera que o conhecimento não está nem no sujeito nem no objeto, mas nas interações ocorridas entre os mesmos. A aprendizagem e o desenvolvimento acontecem, então, na medida em que o sujeito age sobre o objeto e na medida em que possui estruturas previamente construídas ou em processo de construção. Nessa concepção, o professor oportuniza o acesso às informações para que o aluno se aproprie do conhecimento.
Marco Silva (2005) e Eliane Schlemmer (2005) ressaltam que aspectos comunicacionais estão envolvidos e devem ser considerados para o desenvolvimento pleno das práticas pedagógicas dando ênfase para o diálogo e a colaboração que devem ser estabelecidos para tal.
“A comunicação é conatural ao ser humano. Não há sociedade, não há comunidade, sem comunicação entre os homens. Para agir em comum os seres humanos interagem. Desde que se pode identificar a existência de grupos humanos, na pré-história mais remota, existe “comunicação social”. (Braga, 2001, p.14)
A internet potencializa a interação na medida em que possibilita novos contatos e construções colaborativas. Os blogs são ferramentas totalmente adequadas a estas práticas podendo possibilitar a formação de comunidades de interesses e as trocas culturais.
“O ambiente virtual de aprendizagem deve favorecer a interatividade entendida como participação colaborativa, bidirecionalidade e dialógica, e conexão de teias abertas como elos que traçam a trama das relações. O informata que programa esse ambiente conta, de inicio, com o fundamento digital, mas para garantir hipertexto e interatividade terá que ser capaz de construir interfaces favoráveis à criação de conexões, interferências, agregações, multiplicidade, usabilidade e integração de varias linguagens (sons, textos, fotografia, vídeo). Terá que garantir a possibilidade de produção conjunta do professor e dos alunos e ai a liberdade de trocas, associações e significações como autoria e co-autoria.” (SILVA, apud SILVA, 2005, p. 199).
Se usados com vistas à educação, os blogs podem promover a troca de idéias e o relacionamento entre os alunos. Sendo publicados, os trabalhos executados pelos alunos são valorizados e alcançam maior projeção. O recurso dos comentários traz um retorno instantâneo e motiva o trabalho do aluno. A possibilidade de incluir links torna o texto em um hipertexto, sendo mais dinâmico e interessante.
“O hipertexto ou multimídia interativa adequa-se particularmente aos usos educativos. É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do aluno no processo de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma pedagogia ativa.”(Lévy, 1993, p.40)
Esta atitude lúdica e exploratória, citada por Pierre Lévi necessita de um espaço propício onde acontecer. Para tanto, os professores precisam oferecer interfaces e ferramentas adequadas e criar ocasião para que os alunos possam ser motivados a realmente fazer uso das multimídias interativas para que sejam alcançados os objetivos pedagógicos.
Silva (2005), citando Santos, declara que para que a participação dos agentes seja ativa, é preciso que o AVA/ADA seja aberto à imersão, navegação, exploração e participação do usuário em sua construção, possibilitando contribuições em seu design e na sua dinâmica curricular. Complementa dizendo que comunicar não é simplesmente transmitir, mas disponibilizar múltiplas disposições a intervenção do interlocutor. A comunicação só se realiza mediante sua participação. (p.197)
Este autor acredita que esteja esgotado o modelo comunicacional que separa emissor e receptor, considera que os mesmos devem ser tratados como co-autores. Silva complementa com alguns atributos que devem estar presentes em sites educacionais:
Intertextualidade, conexões com outros sites ou documentos, hipertexto
Intratextualidade, conexões com o mesmo documento
Multivocalidade, variedade de pontos de vista
Navegabilidade, ambiente simples e descomplicado
Mixagem, integração de várias linguagens: sons, texto, imagens dinâmicas e estáticas, gráficos, mapas
Multimídia, integração de vários suportes midiáticos
Estes atributos são totalmente possíveis de alcançar quando trabalhamos com blogs.
Metodologia
O professor atuará como animador/motivador e conduzirá a turma a construir um blog que trate dos assuntos relativos à sua matéria. Desta forma, promoverá o envolvimento dos alunos com o assunto e a sua participação e criação a partir dos temas propostos.
Nem todas as matérias precisam ser autorais. É válido que se pesquise e explore assuntos na internet, compostos por outros autores ou que se comente e crie novos textos baseados em trabalhos citados. Faz-se, assim referência a intertextualidade e intratextualidade.
Podem ser usados recursos de multimídia de acordo com a criatividade dos participantes. Os blogs permitem publicação de imagens, arquivos de vídeo, som e apresentações. Os alunos devem ser incentivados a trazer assuntos do seu cotidiano, notícias e temas de seu interesse e relacioná-los com os temas propostos pela disciplina. É incentivado assim a desenvolver visão crítica e a fazer relações de significado entre os mais diversos assuntos.
Os comentários feitos pelos colegas contribuem para a variedade de pontos de vista, a multivocalidade. O comentário é um incentivo a produção pois demonstra que o texto foi lido e fez sentido para alguém, mesmo que essa pessoa não concorde com o ponto de vista apresentado. Além disso, também provoca que o autor repense suas idéias e crie novas construções.
As atualizações constantes são fundamentais para a sobrevivência do blog, para que seja visitado e que discussões sejam travadas. Para que o interesse seja mantido os participantes precisam sentir que participam de uma comunidade que está presente, postando, lendo e comentando.
A navegabilidade e construção de blogs é simplificada, podendo-se dispor de ferramentas prontas onde são escolhidos os elementos adequados a cada conteúdo. Para promover acessibilidade a pessoas com necessidades especiais, no entanto, seria necessário trabalhar com programação própria. Deixaremos esta parte para um próximo trabalho
Recursos materiais e humanos
Será preciso que professor e alunos tenham acesso a computadores conectados a internet, não necessariamente em sala de aula presencial.
O professor precisará dominar a ferramenta de construção de blogs e os alunos precisão ter algum conhecimento de windons e navegação em browsers.
Cronograma
A construção de um blog pode ser uma atividade desenvolvida ao longo do semestre acompanhando o desenvolvimento dos assuntos específicos da matéria.
A proposta de cronograma deve ser adaptada por cada professor segundo seu tempo disponível e carga de conteúdo a ser desenvolvido. Sugerimos este cronograma acima baseado em um professor de 8ª série a Ensino Médio com três períodos semanais.
Atividades para primeira semana de aula
Professor
Apresentação dos objetivos aos alunos
Registro de um blog utilizando as ferramentas disponíveis na internet – o professor ficará registrado como administrador do blog e terá acesso a funções que são restritas aos demais
Envio do convite de participação aos alunos aos alunos
Registro dos alunos como colaboradores do blog.
Alunos
Familiarização com o blog
Pedido de registro
Atualização de perfil
Escolha de foto ou avatar
Atividades para segunda semana
Professor e alunos
Divisão da turma em grupos
Escolha de temas
Definição de objetivos
Publicação dos objetivos
Atividades para terceira semana
Professor e alunos
Distribuição de tarefas para pesquisa e produção de notícias.
Estas escolhas ficam a critério do professor e da turma que determinarão a freqüência das publicações e a divisão dos assuntos de acordo com os objetivos da disciplina.
Atividades para quarta semana
Professor
Publicação de notícias que sirvam como exemplo e motivação – o professor também deve ser um postador de conteúdo
Orientar a construção de links nos posts
Alunos
Pesquisa na internet de outros blogs
Familiarização com ambiente
Aprender a criar link
Primeiras postagens referenciais – que indicam ou comentam assuntos de autores na internet.
Atividades para quinta semana
Professor
Publicação de notícias que sirvam como exemplo e motivação – o professor também deve ser um postador de conteúdo.
Alunos
Primeiras postagens autorais – textos dos alunos de preferência incluindo links de referencia a outros sites
Atividades para sexta semana
Professor
Publicação de notícias que sirvam como exemplo e motivação – agora incluindo imagens
Orientar a publicação de imagens no blog
Alunos
Aprender a incluir imagens nas notícias
Lembrar de fazer referência aos autores
Postagens de textos construídos em grupo e com imagens
Atividades para sétima semana
Professor
Publicação de notícias que sirvam como exemplo e motivação – agora com vídeo
Orientar a publicação ou referência de vídeos nos posts
Alunos
Aprender a publicar vídeos na internet e incluí-los no blog
Produzir posts usando este recurso – autoria coletiva
Atividades para semanas seguintes
Professor
Supervisionar o andamento e publicação de trabalhos conforme a divisão feita nas semanas iniciais
Animar os alunos a continuar participando comentando os posts publicadosAlternar publicações individuais e em grupo –
o professor também deve participar das construções
Alunos
Produzir posts individuais e em grupo usando recursos aprendidos
Participar comentando os posts dos colegas
Atividades semanas finais
Professor
Orientações para encerramento e trabalhos finais
Alunos
Publicação dos trabalhos finais da matéria – na íntegra ou resumos
Atividades última semana
Professor e alunos
Avaliação dos resultados e publicação
Referências Bibliográficas
BRAGA, José Luiz. Comunicação e Educação: Questões delicadas na interface. – São Paulo: Hacker, 2001.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ED., 2003.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1999. (Col. Prismas)
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. 328p.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência, o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: 34, 1993.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
MATURANA, R. Humberto. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001
PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento. 2ed. Petrópolis: vozes, 1996.
PREECE, Jennifer. Design de Interação: além da interaçcao homem-computador / Jeniffer Preece, Yvonne rogers e Helen Sharp; trad. Viviane Pssamai. Porto Alegre: Bookman, 2005.
RUDIGER, Francisco Ricardo. Introdução às teorias da cibercultura: perspectivas do pensamento tecnológico contemporâneo. Porto Alegre: Sulina, 2003.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Palus, 2004. (Col. Comunicação)
SANTAROSA, L. M. C. Paradigmas educacionais para a construção de ambientes digitais: visando pessoas com necessidades especiais – PNEEs. In: Congresso Tecnoneet – CIIEE 2006. As tecnologias na escola inclusiva: novos cenários, novas oportunidades. Murcia: FG Draf, 2006, v. 1. p. 35-42.
SCHLEMMER Eliane. Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) uma proposta para a sociedade em rede na cultura da aprendizagem. In: Valentini,Carla Beatris; Schelmmer, Eliane. (Org.). Aprendizagem em ambientes virtuais: compartilhando idéias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCS, 2005, v. 1, p. 135-159.
SILVA, M. Docência Interativa presencial e online In: Valentini,Carla Beatris; Schelmmer, Eliane. (Org.). Aprendizagem em ambientes virtuais: compartilhando idéias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCS, 2005, v. 1, p.193-202.
VYGOTSKY, L. S. Interação entre aprendizado e desenvolvimento. In: A formação social da mente. O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1984.
Artigos internet
PRIMO, Alex. Ferramentas de interação em ambientes educacionais mediados por computador. Educação, v. XXIV, n. 44, p. 127-149, 2001. Disponível em:
http://www.pesquisando.atravesda.net/ferramentas_interacao.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário